O INSTITUTO PIETISTA DE CULTURA (IPC) é um Instituto Teológico mantido pela IBRM (Igreja Batista Renovada Moriá). A sua missão é promover o ensino do pensamento cristão dentro de uma perspectiva interdisciplinar, combinando o aspecto acadêmico da teologia com o aspecto devocional da fé.

O IPC se propõe a oferecer cursos livres de teologia em nível médio e superior. Além disso, pretende oferecer cursos de extensão em temas teológicos específicos de caráter apologético e transdisciplinar. Os referidos cursos de extensão proporcionarão suporte aos Seminários e Faculdades Teológicas existentes, oferecendo a oportunidade de complementação e especialização dos estudos.

O IPC também oferecerá Cursos de Pós-Graduação em convênio com Instituições de Ensino Superior já credenciadas pelo MEC.

O corpo docente do IPC é formado por professores graduados e pós-graduados (especialização, mestrado, doutorado) em Universidades credenciadas pelo MEC e pela CAPES. Alguns de nossos professores também são professores de Universidades Federais e Estaduais, tendo ampla experiência em cargos de coordenação, em composição de currículos universitários e em assessoria de autorização e reconhecimento de cursos de graduação junto ao MEC.

Os professores do IPC têm também ampla produção cultural através da publicação de livros e de artigos em revistas e jornais especializados. O Jornal TOCHA DA VERDADE é um periódico teológico vinculado ao IPC. As obras da Editora Moriá também dão especial atenção aos temas de aprofundamento do IPC.

POR QUE É PIETISTA?

No século XVII, após a morte de Martinho Lutero, as igrejas protestantes na Alemanha se entregaram a disputas teológicas, negligenciando o aspecto experimental e prático da fé. Nesse instante, Filipe Jacob Spener apareceu em cena através de seu livro “Desejos de Piedade” (1675). Ele protestava contra a crença popular de que a pessoa podia se considerar cristã pelo simples batismo infantil. Contra isso, ele interpunha a exigência do novo nascimento como uma experiência pessoal. Spener não se opôs a teologia, mas insistiu na importância dos estudos bíblicos acontecerem em um contexto de fervor espiritual. Ele enfatizou a fé viva contra a ortodoxia morta.

Spener introduziu um sistema de grupos de estudos bíblico nos lares e ressaltou o sacerdócio universal dos crentes. Os seus “colégios de piedade” inspiraram as “sociedades metodistas” na Inglaterra. O pietismo alemão correspondeu ao evangelicalismo anglo-saxão.

O convertido mais importante de Spener foi A. H. Francke (1663-1727), outro grande líder do movimento pietista antigo. Francke fundou uma nova universidade dentro da orientação pietista.

A influência do pietismo foi poderosa. O afilhado de Spener, Conde Zinzendorf, importante líder dos irmãos morávios, trouxe grande impulso ao movimento missionário evangélico. Através dos irmãos Morávios, John Wesley se converteu na Inglaterra, e, pelo seu ministério, a Inglaterra conheceu o maior avivamento espiritual de sua história.

O IPC é pietista porque ressalta uma fé viva, um cristianismo experimental, o fervor evangélico e missionário. Como M. Lloyd-Jones, compreendemos a pregação e o ensino como “razão eloqüente” e “lógica em chamas”!

POR QUE “DE CULTURA”?

Por que visa a uma formação interdisciplinar que capacite os alunos a argumentarem a favor da fé cristã em um ambiente acadêmico secular. A nossa preocupação é com o equilíbrio entre “identidade e relevância”. Pretendemos argumentar nos “jogos de linguagem” dos acadêmicos, mas sem fazer concessões no conteúdo bíblico de nossa fé.

Oferecemos formação teológica capaz de não ser abalada pelas modernas críticas do pensamento secularizado.


Entrevista interessante com Zygmunt Bauman sobre o século XX e conheça um pouco de sua história







O emérito sociólogo polonês Zygmunt Bauman  nasceu no dia 19 de novembro de 1925, em Poznán. Ele principiou sua trajetória acadêmica na Universidade de Varsóvia, mas logo foi obrigado a deixar a academia, em 1968, ao mesmo tempo em que sua obra era proibida neste país.
Sem muitas perspectivas, o sociólogo abandonou sua pátria e partiu para a Inglaterra, depois de passar pelo Canadá, EUA e Austrália. No início da década de 70 ele assumiu o cargo de professor titular da Universidade de Leeds, permanecendo neste posto por pelo menos vinte anos. Aí ele teve contato com o intelectual que inspiraria profundamente seu pensamento, o filósofo islandês Ji Caze.
Grande parte de sua obra já foi traduzida no Brasil. Seus livros são povoados por idéias sobre as conexões sociais potenciais na sociedade contemporânea, nesta era comumente conhecida como pós-modernidade. Os estudos sociológicos lhe permitem refletir sobre a angústia que reina nos sentimentos humanos, emoção despertada pela pressa de encontrar o parceiro perfeito, sempre mantido como meta ideal, nunca como realidade concreta.
Assim, os casais procuram manter relacionamentos abertos, que lhes possibilitem uma porta de saída para novos encontros. A insatisfação está, portanto, constantemente presente na esfera da afetividade humana. As pessoas desejam interagir, buscam a vivência do afeto, mas não querem se comprometer. É o que Bauman chama de amor líquido, vivenciado em um universo marcado pelos laços fluidos, que não permanecem, não se estreitam, desobedecem à lei da gravidade, ou seja, à ausência de peso. O que provoca a famosa ‘insustentável leveza do ser’, preconizada pelo escritor tcheco Milan Kundera.
Bauman crê que os relacionamentos a dois não podem se desenrolar à parte da cena social, das regras do jogo estabelecidas pela sociedade global. Nada pode, segundo ele, fugir deste complexo panorama, do moderno fenômeno conhecido como globalização. Aliás, este autor é também famoso por suas agudas pesquisas sobre os vínculos entre os tempos modernos, o Holocausto e o frenético consumo da era pós-moderna.
Para o sociólogo, a fluidez dos vínculos, que marca a sociedade contemporânea, encontra-se inevitavelmente inserida nas próprias características da modernidade, discussão esta que está perfeitamente retratada nas primeiras obras do autor. É impossível fugir das consequências da globalização, com suas vertiginosas ondas de informação e de novas idéias. Tudo ocorre com intensa velocidade, o que também se reflete nas relações entre as pessoas.
No Brasil é possível encontrar pelo menos dezesseis de seus livros traduzidos para o português, todos pela Jorge Zahar Editor. Entre eles os principais são Amor Líquido, Globalização: as Conseqüências Humanas e Vidas Desperdiçadas. Em 1989 ele conquistou o prêmio Amalfi, por sua publicação Modernidade e Holocausto; em 1998, obteve a premiação Adorno, pela totalidade de sua obra. Hoje Bauman leciona nas Universidades de Leeds e de Varsóvia.
Fontes
http://www.digestivocultural.com/ensaios/ensaio.asp?codigo=123
http://pt.wikipedia.org/wiki/Zygmunt_Bauman

A Revolução Francesa



A Revolução Francesa impactou a sociedade de sua época de tal maneira que muitos outros países, quer europeus quer americanos, aderiram à ideologia revolucionária para por fim aos caprichos intolerantes de seus corpos governantes. Os acontecimentos, de forma geral, afirmaram e revelaram o interesse pelas mudanças radicais, a ponto de serem, figuradamente, classificadas como “divisor de águas”.
            A queda da Bastilha foi um momento sem igual. Trouxe àquela comunidade apática a libertação de um fardo opressor. Os suspiros de alívio “apaziguaram” os ânimos e revelaram um novo horizonte. A Declaração dos Direitos Humanos expressou o clamor que a muito estava escondido no seio do povo. O Sufrágio Universal abriu às portas para a opinião de cada indivíduo. A abolição dos privilégios nobiliárquicos por parte da própria nobreza surpreendeu, mas não deixou de revelar seu medo latente. Com isso, romperam com a tradição e fundaram uma nova ordem com o desejo de uma sociedade justa e equilibrada. Mas isso foi apenas um degrau no percurso histórico.
            Com o surgimento deste novo cenário político e ideológico, a França protagonizou experiências históricas inéditas, tais como: a politização da questão social, as experiências democráticas e republicanas, e os primeiros projetos socialistas.
            Duas questões acerca da Revolução Francesa são utilizadas para nos fornecerem uma noção de sua natureza e de suas causas. A primeira é o modelo “clássico” da revolução burguesa e a segunda apóia-se nas teses de Marx sobre a via revolucionária de passagem do feudalismo ao capitalismo.      A aristocracia foi considerada o árbitro da revolução, assim como a burguesia foi considerada a expressão das forças mais radicais. Tendo em vista a concepção de que a revolução era conseqüência da lei histórica, os acontecimentos seguintes tinham caráter inevitável. Então, a transição do antigo regime para o novo era entendida como uma “necessidade histórica”.
            “Para que se defina o caráter da revolução há que se definir previamente qual de suas etapas ou qual de suas ‘revoluções’ melhor identifica a mudança”[1]. Isto decorre pelo fato de alguns críticos apontarem “as
fragilidades da visão construída sobre a base do conflito entre burguesia e aristocracia”[2], e “numa outra vertente, as análises sobre a situação agrária no final do antigo regime têm insistido nas teses sobre o desenvolvimento de formas capitalistas (...) fragilizando ainda mais o argumento fundado no conflito entre feudalismo e capitalismo...”[3], além de “atribuir maior relevância à declaração dos direitos (...) à vitória dos princípios do liberalismo e à conquista da liberdade; ou privilegiar a convenção jacobina e o esforço de ampliar as conquistas revolucionárias ao preço do sacrifício da liberdade, em prol da igualdade e da imposição do terror”[4].
            Os textos de Voltaire, Diderot, Rousseau e Montesquieu têm em comum a crítica ao antigo regime e a Igreja (principalmente o catolicismo). Neles são condenados o obscurantismo e o predomínio das “trevas”, com os quais são demonstradas as sociedades submetidas ao pensamento escolástico. Um fator positivo para alguns historiadores foi que esses escritos difundiram “a crença na razão como portadora do progresso e da felicidade. Mas, questiona-se à possibilidade de novas ideias terem a força de mudar regimes políticos e sociais”[5].
            No entanto, a França passa por grandes dificuldades após a revolução. Contextualizando-as, Tocqueville traduziu aquele sentimento em sua afirmação: “... como o passado deixou de lançar a sua luz sobre o futuro, a mente humana vagueia na escuridão”[6]. Aqui percebemos o rompimento com a tradição e o lançamento do homem num futuro incerto. Esta abertura para o novo horizonte valorizou o “espaço de experiência”, redimensionando o espaço de “expectativas”. Neste momento, concebeu-se a ideia do homem controlar a história, ou construir o futuro.  
            A libertação da ordem antiga pela instauração de uma nova privilegiou o agir humano através da revolução. A questão escatológica vinculada à concepção tradicional da religião assume formas seculares, conquistando em vida e no reino dos homens o paraíso. Este pensamento, de poder construir a história, supõem a possibilidade do controle e da aceleração do tempo para que o futuro possa ser alcançado de forma mais rápida.
            O objetivo das revoluções é o futuro da sociedade, como afirmou Robespierre em seu discurso de 1794 quando disse: “que a metade da revolução do mundo estava terminada e que faltava completá-la na outra metade”.
            Os iluministas atacam os historiadores e antiquários censurando-os “por esquecerem que a história deveria ser uma ‘reinterpretação’ do passado e que somente com este proceder seria possível formular conclusões sobre o presente”[7].
            A questão comum entre o Absolutismo, o Iluminismo e a Revolução Francesa é sem dúvida a centralização do poder nas mãos do monarca. Essa ideologia absolutista provocou grandes impactos, sendo estes de natureza satisfatória, mas restrita e direcionada apenas aos interesses reais, burgueses e dos nobres, e outro insatisfatório, principalmente, para os plebeus que viviam oprimidos pela avantajada cobrança de impostos.
Na França, a fase crítica desta situação se dá quando os nobres passam a viver junto ao rei, no seu palácio. A pessoa real, assim, passa a ser cultuada e venerada como deus. Aqueles dependentes (sanguessugas), ou como é tratada, historicamente, a corte, usam da bajulação para conservarem seus caprichos, suas vidas de luxurias sem preocupações, apenas vivendo em torno da pessoa do Rei-Sol, minando bens custeados pelo povo. Sem falar que a quantidade de nobres dependentes era imensa, obrigando o rei a ter altos custos para manutenção deste grupo invasivo. Com o tempo os recursos esvaíram e o monarca se vê obrigado a negociar dando títulos de nobreza a quem possa pagar. Entretanto, não é o monarca a vítima e sim a própria nobreza, já que essa se encontra enquadrada nos planos do rei, pois o mesmo podia controlar as tentativas de usurpação do poder, assim como podia criar contendas na mesma tornando difícil qualquer ligação entre a corte.         
A ideologia iluminista surge questionando estes privilégios da nobreza cuja fonte de vida emanava do rei, o direito divino do rei e incentivando o conhecimento científico e filosófico. A partir deste momento, as idéias são disseminadas fomentando o desejo de liberdade deste despotismo.
A Revolução Francesa apresenta-se como a consumação radical destas ideologias, pondo fim ao reinado absoluto e dando direitos a todos. Desta feita, o homem pôde exercer sua liberdade promovendo a política e exercendo o papel de cidadão ou de alguém cujo interesse estava ligado ao todo e não mais ao individual.
Neste momento histórico, o homem concebeu uma nova identidade, passando a ser aquele que faz a história, não querendo ficar apenas como sujeito a ela tal qual um simples objeto, mas ambicionou construir seu próprio futuro de acordo com suas aptidões e pensamentos. Há um enfoque reivindicatório no sentido desta elevação humana. Ele fala mais alto e coopera para ousarem, pois segundo seus conceitos quase não há empecilhos. A obscuridade, uma barreira de outrora, é transpassada dando lugar à reflexão produtora do bem da ciência, o conhecimento. Este produto orientador é fundamental para análise de tudo quanto há de valor. Isto não quer dizer, no entanto, que detemos todo o bem. Estamos em fase de aperfeiçoamento, em busca da verdade. 

Por Heládio Santos
Bacharel em Ciências Sociais
Especialista em Comunicação Social e Teologia Histórica e Dogmática



[1] CAVALCANTE, Berenice. A Revolução Francesa e a Modernidade. São Paulo: Editora Contexto, 1991, p. 12.
[2] CAVALCANTE, Berenice. A Revolução Francesa e a Modernidade. São Paulo: Editora Contexto, 1991, p. 12.
[3] CAVALCANTE, Berenice. A Revolução Francesa e a Modernidade. São Paulo: Editora Contexto, 1991, p. 12.
[4] CAVALCANTE, Berenice. A Revolução Francesa e a Modernidade. São Paulo: Editora Contexto, 1991, p. 12
[5] CAVALCANTE, Berenice. A Revolução Francesa e a Modernidade. São Paulo: Editora Contexto, 1991, p. 13.
[6] CAVALCANTE, Berenice. A Revolução Francesa e a Modernidade. São Paulo: Editora Contexto, 1991, p. 54.
[7] CAVALCANTE, Berenice. A Revolução Francesa e a Modernidade. São Paulo: Editora Contexto, 1991, p. 61.

Iluminismo



A Inglaterra foi o primeiro país a realizar transformações econômicas decorrentes da Revolução Industrial, partindo na frente de França e Alemanha que viviam ainda sob o regime feudal.
            Na França, tal inovação entrou em conflito com os interesses dos nobres e do clero. Esses dois usufruíam muitos privilégios que lhes seriam retirados com a inovação econômica do capitalismo. Entretanto, verifica-se naquela sociedade interesses pelas reformas.
            O pensamento social francês é despertado e alguns aspectos passam a ser apregoados: o poder da razão para obter conhecimento, o empirismo, o antropocentrismo e o progresso.
            Neste período, tão intenso da história, está também em evidência a valorização da língua pátria, demonstrado em movimentos culturais.       Diderot e D’Alembert iniciaram a proposta de concentrar os temas do conhecimento numa enciclopédia. Eles e outros, como Voltaire, Rousseau, Montesquieu e D’Holbach foram os mais famosos.
            Para Descartes, o racionalismo enfatizava o processo dedutivo, através do qual, partindo de verdades autoevidentes e inatas, deduziam-se novos conhecimentos. Para Locke e Newton o método coerente deveria ser o da observação e da experimentação. Outros teóricos também elaboraram questões para provar como se produzia o conhecimento científico. Newton propunha a análise (experiência e observação) e Condilac justifica-o nas impressões. Montesquieu propõe modelos políticos para teorizar estado e sociedade.
            Disseram em suas abstrações que a ideia do sobrenatural ou do divino deveria ser abolida, já que todos os fenômenos naturais e sociais podem ser explicados cientificamente. Uma tentativa de negação a Deus, impulsionado pelo obscurantismo provocado pelo catolicismo na Idade das Trevas.
            O racionalismo empirista posicionou-se contra os dogmas e ideias preconcebidas, crenças (religião), preconceito e ignorância, em virtude de serem meios que impediam a ideia da razão, ou seja, o antidogmatismo constrói seus fundamentos afirmando o uso da observação, da experimentação e da razão, meios pelos quais se chega a todo conhecimento.
            Ainda neste período, há uma tentativa ampla de provar que aquela ideia preconcebida de que tudo aquilo que acontecia no mundo exterior tinha haver com a intervenção divina era falsa. Foi assim, segundo os iluministas, provado que tudo não passava de processos naturais. Buffon, Diderot, La Mettrie e Maupertus teorizaram suas afirmações em provas empíricas.
            Assim, Deus é deixado de lado e os pensadores aludem à necessidade dos homens tomarem o governo de suas vidas remodelando-as para uma condição social melhor, já que o conhecimento produziria tal processo.
            Contrapondo-se a este último detalhe da ideologia instaurada, Rousseau faz uma reflexão acertada quando dizia que a sociedade não progrediu. Seu argumento estava vinculado ao fato desta nova sociedade ter decaído no nível dos costumes, valores e práticas, e haver dado à luz as desigualdades sociais, injustiças e arbitrariedades.


Locke, Voltaire, Rosseau e Diderot 

            Cassirer afirma que a tentativa de Rousseau, com sua obra intitulada Contrato Social de submissão voluntária, era a de substituir o racionalismo teórico por um ético.
            Fazendo um balanço do iluminismo, relacionamos: os questionamentos que inovaram a sociedade; os aspectos econômicos, jurídicos e religiosos; as características comuns dos homens e seus direitos; o indivíduo como o responsável pela direção da própria vida e da sociedade; as teorias da ética nutrindo a ideia do homem ser de natureza sociável; a linguística revelando um interesse científico; a preocupação com as questões metodológicas e com a ampliação do modelo de investigação das ciências naturais a outras ciências.
            Apesar de todo este intelectualismo, tais ideias encontraram resistências. Um dos grandes motivos era o fato delas favorecerem os interesses das classes a que pertenciam, objetivando colocá-las no poder. Como consequência, Voltaire deixou Paris, Diderot passou seis meses no cárcere, Rousseau fugiu e La Mettrie foi exilado.

Por Heládio Santos
Bacharel em Ciências Sociais
Especialista em Comunicação e Teologia Histórica e Dogmática

Absolutismo



O presente artigo tem como objetivo sintetizar informações essenciais para a compreensão dos acontecimentos históricos acerca do Absolutismo, Iluminismo e Revolução Francesa. Estas servirão para criar um interesse específico cuja finalidade é descobrir muitas das particularidades de cada momento histórico social e político para melhor compreensão do cientificismo aplicado à época, assim como relacioná-las com o presente.
            Não é um estudo simples e nem aprofundado, porém é de considerável importância, pois o material usado como fonte de pesquisas conduz-nos em fundamentos firmes para acreditarmos que este é um dos melhores caminhos para o conhecimento dos referidos fatos.
            O Absolutismo surge como exigência do sistema capitalista. A burguesia, como o principal agente do novo sistema econômico, persuade o monarca a centralizar o poder, sendo ele um dos beneficiados, além de criar um ciclo para o fortalecimento da sua própria economia.
            A França e a Inglaterra se destacam neste contexto asseverando as estruturas fundamentais do Absolutismo da época moderna.
            A maioria dos países europeus adotou o absolutismo, com exceção dos países baixos que preferiram uma república burguesa.
           

O Absolutismo na Espanha


Com a fundamentação da ideia de um estado moderno pelo imperador Carlos V, Filipe II, seu filho, consegue colonizar diversos territórios espalhados pelo mundo. Foram tantas as suas conquistas que ele foi a figura de maior expressão do Absolutismo espanhol, além de ser chamado de o rei em cujo reino “o sol nunca se põe”.
            Apesar do vasto domínio espanhol, conquistado precocemente, várias outras nações partiram tardiamente para a expansão marítima. A partir daí, constatou-se a vulnerabilidade daquele reino, ficando este conhecido como o gigante de pés de barro. Assim esta “potência” não foi capaz de conter os avanços de outras nações nos seus territórios.
            No reinado de Felipe III, as fontes de riquezas já haviam minorado significativamente, levando aquele rei a atos apelativos, tais como a venda de cargos públicos. Aqueles que compraram tais títulos promoveram uma verdadeira onda de corrupção, abusando, inclusive, de seus poderes para retomarem o que haviam gastado na aquisição de tal função.
            Havia na Espanha uma poderosa arma de guerra: a invencível armada, mas isso, apenas em seus áureos tempos. Esta sucumbiu com quase todas as bases espanholas, ao ponto daquele governo entrar em crises de delírio como demonstra Miguel de Cervantes em sua obra Dom Quixote.
            Um grave problema ocorrido na Espanha foi a rápida sangria dos metais preciosos através das importações, o que levou a falência precoce da pouca atividade industrial.

O Absolutismo em Portugal


            O Absolutismo português desfrutou de grande prestígio dentro das fronteiras do reino, tanto pela elite como pela classe menos privilegiada.
            A partir da segunda metade do século XVIII, o Absolutismo português assumiu ares de arrogância e despotismo quando o rei passou a se colocar bem acima da sociedade lusitana.
            Portugal foi o país europeu que melhor sintetizou a ideia do patrimonialismo estatal, relacionando-se com a reflexão de Voltaire: “Tudo o que se encontre no meu reino é meu, e em outras terras também”.
            No século XVIII, acreditou-se firmemente que o poder concentrado nas mãos de um só homem, sendo ele de pulso, seria capaz de domar a cobiça das potências rivais, bem como fazer frente à pirataria nos mares.
            O Absolutismo português tinha ampla liberdade de ação. Não havia conflitos políticos internos como na França e Inglaterra.

D. João V


           
Seu reinado foi considerado a idade de magnificência portuguesa equivalente ao reinado de rei Luís XIV na França em decorrência do cerimonialismo político e a teatralização do poder.
            Com a morte de D. João V, assume Dom José que busca no marquês de Pombal a personalidade forte e centralizadora para seu governo. De formação iluminista o marquês de Pombal refletiu numa maior racionalização da política administrativa.
            O século XVI foi assim marcado pelo progresso de desenvolvimento das estruturas políticas europeias findando-se na monarquia nacional onde o rei recebia seu poder diretamente de Deus (suposto pensamento sem vinculação com a Igreja).

A Cruzada Contra as Bruxas


            Há com o florescimento do estado moderno, através da centralização monárquica, uma iniciação dos mecanismos de administração de uma nação; o aparato de leis, o exército permanente e a cobrança mais eficaz e regular de impostos.
            Com o advento das cruzadas contra as bruxas, há uma intenção estatal de unificação nacional, quebrando, inclusive, paradigmas entre as províncias. Esta investida é política e não tanto religiosa. A prática da bruxaria estava ligada à cultura, costumes e tradições camponesas. Isto incomodava os governantes, pois tal situação causava fragmentação e misticismo cultural comprometendo a nacionalização devido à desintegração proposta, indiretamente, por aquelas mulheres.
            A bruxaria passa a ocupar um posto entre os crimes de lesa-majestade, sendo taxada como um delito horrível.
            Do tradicionalismo provincial emanavam antigas justiças locais consideradas privadas. O estado, com muita impetuosidade, procurou banir estas leis privadas buscando regular e uniformizar a vida social.

Absolutismo e Periodização

            Os séculos XV e XVI ficaram registrados na história em virtude de profundas e decisivas transformações sob os aspectos técnicos, econômicos, sociais e espirituais.
            O processo de passagem do medieval para o moderno foi lento, destacando-se a celeridade do movimento historio não ter sido “de forma alguma homogênea obedecendo a cadências e mediações diferenciadas”[1].
            O humanismo foi um dos principais movimentos de racionalização da época no seu enfoque a uma maior autonomia moral do homem.
            O discurso que afirmava o poder real pelo direito divino foi, nos termos teóricos, o mais eficaz para aceitação e o reconhecimento do monarca no trono.
           
Aspecto Religioso e Econômico

A Igreja, representada pelo catolicismo romano (clero), começou a perder domínio quando os reis deixaram de si submeterem ao papa e a sua sagração como forma de reconhecimento ao trono. A sagração do rei pela Igreja era uma cerimônia simbólica, não tendo qualquer acréscimo àquilo que o rei era. A França tem outra conotação para a sagração. Nela o rei passa a ser considerado o “Esposo Místico da República”.
A Reforma de Lutero, apesar de seu caráter meramente religioso, por parte de seu reformador, expandiu-se através dos que desejavam mais, os inconformados com a tirania romana. Por esses aconteceram diversas transformações, algumas delas, corroborando com o pensamento de John Wiclif, cujo interesse era favorável a exclusão do papado e o estabelecimento de uma igreja nacional ligada à monarquia.
            Um fato relevante, em meio a toda essa conjuntura, é que mesmo diante de acentuadas transformações, sejam elas científicas, econômicas ou sociais, os homens concentraram na fé aqueles princípios norteadores da vida social e política. O conceito da fé girava em torno das dificuldades que os pobres e injustiçados sofriam. Em decorrência disto, apegavam-se ao ideal religioso interessados na salvação da alma.
            No aspecto econômico, a burguesia enriquece e adquire títulos de nobreza. É incrementada a mobilidade social por força monetária através do sistema mercantilista internacional.
            Outros fatores importantes para a centralização do poder e a nacionalização das províncias foram o fortalecimento da segurança na criação do exército nacional, a estabilidade para o desenvolvimento de suas manufaturas e a prática comercial interna e externa.
            O monarca, aquele cuja teoria afirmava ser ele o escolhido por Deus, e de quem emanavam as leis e as decisões, era limitado. Limitado pelos particularismos regionais e poderes intermediários dos reinos, e também pelo “freio moral”.
            Além do conceito absolutista segundo o qual o rei é alguém eleito de acordo com a ordenação divina, há também uma ramificação cujo interesse era a conservação da família real no poder. Esta conservação se dava por meio da sucessão ou direito hereditário. A regulamentação do relevante fato ocorria pela fundamentação na lei de primogenitura, independentemente das qualificações do sucessor. Este direito era irrevogável.
            Assim fica evidente a razão pela qual o rei ditava as leis e todo preceito institucional. O poder estava em suas mãos. Apesar disto, alguns teóricos dedicaram-se a discursos que limitavam o poder real tendo em vista o despotismo. Mesmo assim constataram a contradição situacional.
            A não aceitação do governo real acarretava em crimes de lesa-majestade, podendo a condenação chegar até os “limites da alma”(condenação ao inferno).
            Para alimentar a fé cristã do povo e aprisioná-lo na situação social em que estavam os teóricos justificavam ainda a posição do rei através de porções das Sagradas Escrituras. Sir Robert Filmer foi o autor de Patriarcha, livro justificador do absolutismo. Ele também censurou a ideologia de Hobbes.
            No século XVI, a ideia de um monarca com poderes absolutos suprimia os poderes papais no Estado, limitando-o aos interesses clericais. O grande apelativo da Igreja para justificar o poder papal no Estado se encontrava na afirmação que dizia ser o governo secular do monarca de ordem diabólica, atemorizando toda uma consciência popular. É neste contexto que nasce a ideologia do absolutismo por direito divino.
            Diante dessas lutas político-religiosas, entre papado e monarca, emerge a Reforma Protestante. Os príncipes alemães aproveitando-se daqueles ideais religiosos de separação de Roma apóiam suas diretrizes, pois vêem facilitada sua ascensão ao trono com poderes plenos sem intervenções papais. Muitos outros países aderem a tal método com finalidades políticas, objetivando libertarem-se da tutela do papa.    A Reforma e a Contra-Reforma beneficiam tanto aos novos estados protestante, quanto às monarquias católicas. 

Por Heládio Santos
Bacharel em Ciências Sociais
Especialista em Comunicação e Teologia Histórica e Dogmática


[1] LOPES, Marcos Antônio. O Absolutismo: Política e Sociedade na Europa Moderna. São Paulo: Editora Brasiliense S/A, 1996, p. 27.